1 – INTRODUÇÃO
O Tocilizumabe é um medicamento de alto custo, da classe dos anticorpos monoclonais, inibindo a interleucina 6 (IL-6). Assim, tem ação antiinflamatória, sendo usado, na prática médica, em doenças reumatológicas, como artrite reumatóide, e o tratamento da síndrome de liberação de citocinas em pacientes em imunoterapia para doenças neoplásicas.
A COVID-19 é uma doença viral causada pelo SARS-CoV-2 que, em cerca de 85% dos casos, evolui sem complicações e sem necessidade de nenhum tratamento.
No entanto, cerca de 15% dos pacientes com COVID-19 evoluem, normalmente após a primeira semana de doença, com um processo inflamatório intenso. Nesses pacientes, os exames laboratoriais de inflamação mostram-se bastante alterados e a tomografia de tórax mostra extenso processo inflamatório pulmonar. Com isso, os pacientes passam a requerer, muitas vezes, aumento progressivo da necessidade de oxigênio e, na sequência, intubação orotraqueal e ventilação mecânica.
2 – ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO DA COVID-19 GRAVE
A COVID-19 grave é uma doença de alta letalidade, mesmo quando todos os recursos terapêuticos estão disponíveis. A taxa de letalidade em pacientes que são intubados mostra-se consistentemente acima de 50%, alcançando até 80-90% em algumas instituições de saúde.
Além do suporte respiratório, com medidas de ventilação não-invasiva e invasiva, e da rotina de cuidados com pacientes críticos, diversos estudos foram realizados para encontrar medicamentos com capacidade de controlar o processo inflamatório da COVID-19.
Inicialmente, os corticosteróides, medicamentos de baixo custo e amplamente disponíveis, mostraram-se eficazes e passaram a ser adotados de rotina no tratamento da COVID-19 grave. Deve-se destacar que o uso de corticosteróides precocemente, nos primeiros 7 dias de sintomas e em pacientes que não estão necessitando de oxigênio, mostrou tendência de agravar a doença e aumentar a chance de morte, de modo que só podem ser utilizados em pacientes hospitalizados a partir de um certo ponto da
evolução da doença.
Porém, mesmo com o uso de corticosteróides nos pacientes internados com COVID-19 grave, uma parte dos pacientes evolui com piora progressiva, intubação orotraqueal e óbito. Por isso, passou-se a buscar novas alternativas para conter o processo inflamatório grave da COVID-19.
3 – EVIDÊNCIAS DE BENEFÍCIOS DO TOCILIZUMABE
Recentemente, 2 trabalhos científicos mostraram que o Tocilizumabe, por sua ação antiinflamatória, pode reduzir as chances de morte por COVID-19. Os principais achados desses trabalhos são os seguintes:
- REMAP-CAP, divulgado em 07/01/21: em pacientes admitidos no CTI, a taxa de mortalidade em pacientes que receberam Tocilizumabe foi de 28%, contra 36% em pacientes que não receberam; houve uma redução da chance de morte de 24%; houve redução de 10 dias de tempo de permanência no CTI em pacientes quer receberam Tocilizumabe;
- RECOVERY, divulgado em 11/02/21: em pacientes admitidos na Enfermaria, com necessidade de oxigênio suplementar e exames mostrando inflamação, 54% dos pacientes que receberam Tocilizumabe sobreviveram, contra 47% dos pacientes que não receberam a medicação.
Com base nesses 2 estudos, o NHS (serviço de saúde pública do Reino Unido) padronizou o uso do Tocilizumabe para tratamento de COVID-19 grave no país em 11/02/21.
Na sequência, a Sociedade Americana de Doenças Infecciosas (IDSA), em 17/02/21, também passou a sugerir o uso do Tocilizumabe para COVID-19 grave.
4 – CONCLUSÃO
A COVID-19 é uma doença de alta letalidade no grupo de pacientes graves, independentemente do tratamento que é instituído. Infelizmente, muitos pacientes falecem, mesmo tendo recebido todos os medicamentos disponíveis.
Há dados científicos que mostram que as terapias antiinflamatórias (com corticosteróides e com Tocilizumabe) podem reduzir a chance de morte. Porém, haverá pacientes tratados com esses medicamentos que irão evoluir para óbito, pois o tratamento não tem 100% de sucesso. Do mesmo modo, pacientes serão capazes de se recuperar mesmo sem o uso de antiinflamatórios.
Assim, o Corpo Clínico do HNSF tem indicado a possibilidade do uso do Tocilizumabe para alguns pacientes com COVID-19 grave, necessitando de uso crescente de oxigênio e com exames mostrando alta atividade inflamatória, sem resposta ao uso de corticosteróides, como uma possibilidade adicional ao tratamento padrão.
Os médicos assistentes tratam a questão com transparência com os pacientes, responsáveis e familiares. É claramente informado que o uso do medicamento é uma tentativa de reduzir a gravidade da COVID-19 e reduzir a chance de morte, mas que não há garantia de sucesso.
Diante de uma doença tão grave, em sua forma complicada, diversas instituições de saúde privadas no Brasil, na busca de tentar salvar o maior número possível de pessoas, passaram a incorporar o Tocilizumabe no arsenal terapêutico para COVID-19. E é justamente nesse sentido que o HNSF, assim como outros hospitais privados da cidade, tem buscado selecionar pacientes que podem se beneficiar do uso da medicação, recomendando a utilização do medicamento em alguns casos de COVID-19 grave.